A dinâmica dança entre a mudança e a arte de aprender

A transformação digital engloba vários aspectos, como computação na nuvem, análise de dados em tempo real e BIG Data, inteligência artificial, robótica e internet das coisas (IoT), assim como cibersegurança e plataformas de colaboração que facilitam e agilizam a comunicação e o trabalho em múltiplos setores.

A comunicação a distância instantânea existe desde os sinais de fumaça ou o uso de tambores. Passou pelo telégrafo, telefone, rádio, TV, mas nunca havia sido tão ampliada e democratizada com a internet e os smartphones.

Não há barreira geográfica; a comunicação instantânea juntamente com a popularização das redes sociais, os rápidos ciclos globais de notícias, as automações, o aumento da produtividade, e o comércio eletrônico, movimentam o mundo cada vez mais rápido.  Assim como as decisões “online” e “on-time” tomadas a partir de dados, e o aumento da competitividade e o encurtamento dos ciclos de inovação. Essas questões impactam diretamente no ritmo da sociedade contemporânea.

O conceito de impermanência e mudança é debatido desde a Grécia Antiga e bem marcado pela frase – “Nada é constante exceto a mudança” – atribuída a Heráclito. Entretanto, o ritmo da mudança nunca esteve tão acelerado.  O imediatismo se torna cada vez mais cultural, e na medida que o mundo acelera, as transformações e mudanças também aceleram em muitos aspectos. O que você estuda no início de um curso universitário, no primeiro ano, pode se tornar obsoleto no dia em que se formar. A tecnologia de ponta em um ano fica para trás no seguinte; a profissão segura hoje deixa de ter valor amanhã. Até mesmo grandes teorias científicas podem ser questionadas ou derrubadas em menos tempo, considerando a utilização da computação quântica. Outra tecnologia que, junto com a inteligência artificial, trará inúmeras mudanças em pouco tempo. Como se preservar e preservar valor na sociedade meio a tantas rápidas mudanças?

O aprendizado contínuo é um valor central em várias filosofias, desde o Confucionismo e o Budismo no oriente, ao Estoicismo nascido na Grécia Antiga com forte influência no mundo contemporâneo, focado na virtude e no controle das emoções e na constante busca pela sabedoria e pelo autoconhecimento visando uma vida de acordo com a razão e a natureza. A importância do aprendizado contínuo também está presente no Iluminismo, no Existencialismo, no Pragmatismo e no Humanismo.

Perante o dinamismo contemporâneo e a grande importância da busca pela sabedoria, aprender a aprender torna-se um dos principais valores para o futuro.

Naturalmente, diferentes métodos de estudo e a forma como interagimos com um conteúdo impactam na retenção de informações.

Existem pesquisas e modelos pedagógicos que indicam a superioridade de métodos de aprendizagem menos abstratos e com mais envolvimento sobre os mais abstratos e passivos. Considerando, por exemplo, o impacto de experiências, como: Aula expositiva ou instrução direta, leitura, audiovisual, demonstração, Aprendizagem Cooperativa e Grupos de Discussão, Aprendizagem por Descoberta e Ensinar aos Outros.

A Pirâmide da Aprendizagem, também conhecida como “Cone da Experiência” de Edgar Dale, ilustra de certa forma tais ideias.  Apesar de percentuais de retenção e aprendizagem serem frequentemente atribuídos a determinadas ações, como leitura, escuta e escrita, por exemplo, é importante mencionar que Dale nunca indicou percentuais relacionados a esta pirâmide. De acordo com Lalley, James P.; Miller, Robert H., em artigo publicado em setembro de 2007 após análises da eficácia dos diversos métodos de ensino em relação ao resultado de retenção e aprendizado, notou-se que havia uma escassez de informações e variáveis nos estudos, o que impede a indicação de percentuais precisos.

Tais indicações de percentuais de retenção para cada método de estudo, apesar de frequentemente apresentadas quando buscamos informações sobre o assunto, são mais ilustrativas do que baseadas em pesquisas empíricas diretas com relação aos percentuais.

Há também divergências na ordem da relevância das atividades ou métodos dentro da pirâmide. É comum observar a escuta no início da pirâmide, antes da leitura, por exemplo, enquanto que, para Dale, os símbolos verbais e visuais aparecem antes da escuta.  

Dale determina níveis de experiência iniciando com o que é mais abstrato para o menos abstrato. Em geral, tudo que envolver uma experiência mais direta e envolvente, gera memórias mais vívidas. Como comparar uma experiência em um laboratório, versus teorizar a mesma experiencia em um quadro negro.

Na visão de Dale, o cone funciona como uma metáfora visual da experiência de aprendizado e não deve ser observado de maneira rígida, com divisões inflexíveis. Isso seria um erro perigoso, de acordo com ele.  (1) (1954, p.42). Dale também deixa claro que – “`Maior grau de abstração não significa maior dificuldade.`  (1) (1954, p.42)”. Entretanto, a experiencia direta é bem aceita e aplicada quando possível nas escolas nos dias de hoje.

Imagem: cone da experiência de Dale.

Em meio a divergências e falta de conclusões empíricas para determinar percentuais de retenção para cada método, irei centrar na explanação de diferentes métodos que, de certa forma, estão contidos no cone da experiência original de Dale e na maioria das suas variações corrompidas. Expondo, de forma breve, os achados em cada um deles, baseados em pesquisas efetivamente realizadas de acordo com Lalley, James P.; Miller, Robert H. sem indicar qualquer percentual.

1. Aula Expositiva ou Instrução Direta

Centrada no professor, a abordagem fornece uma experiência clara e altamente estruturada para alcançar os objetivos de aprendizagem. É a mais popular estratégia de ensino e comprovadamente melhora o desempenho dos alunos. A instrução direta demonstrou ter um efeito significativo na retenção, apesar da pirâmide de aprendizado colocá-la em nível de baixa retenção.

2. Leitura

Centrada na compreensão leitora dos alunos, com diversos estudos indicando que a intervenção específica de estratégias de compreensão aprimora a capacidade do aluno de memorizar e compreender textos. Base fundamental para o aprendizado continuado, é um método de aprendizagem importante e eficaz, muitas vezes subestimada pela posição da pirâmide.

3. Áudio-Visual

Ao englobar, som, vídeos, imagens e gráficos, é visto como uma ferramenta que aprimora a compreensão e retenção dos alunos. Apesar da escassez de pesquisas sobre retenção em materiais audiovisuais, há evidências do seu potencial para aprimorar a retenção e o entendimento de um assunto com os avanços tecnológicos em direção às simulações e à realidade virtual.

4. Demonstração

Realizada por um especialista ou professor perante a observação dos alunos, mantendo o comportamento modelado para minimizar ambiguidades e possíveis erros, a demonstração pode gerar ganhos significativos na retenção, de acordo com pesquisas. Tem a sua eficácia comprovada, frequentemente estando entrelaçada com aulas práticas e expositivas. Considerando a importância do uso eficiente de materiais e instruções claras por conta da segurança das pessoas e do ambiente.  

5. Aprendizagem Cooperativa e Grupos de Discussão

Método que incentiva a colaboração e interação dos alunos. Meta-análises indicam maior desempenho dos alunos quando comparadas com abordagens competitivas ou individuais. Especialmente em grupos onde a reflexão e a discussão são fomentadas, estimulando o pensamento e a formulação de ideias. A aprendizagem cooperativa com processamento de grupo alcança maior eficácia na retenção. Combinada com aulas expositivas, pode gerar um benefício de retenção de curto prazo, enquanto a metodologia de discussão pode levar à retenção de habilidades de pensamento crítico por períodos maiores.

6. Prática através da Ação (Aprendizagem por Descoberta)

Método em que a descoberta de princípios e relações é encontrada por conta própria ou em grupos, visando desenvolver uma compreensão pessoal expressiva.

Podem resultar em uma aprendizagem superior, mas nem sempre. Os resultados de retenção são mistos e sua eficácia depende do contexto. Englobando o domínio do assunto pelo professor e o próprio conhecimento prévio do aluno. Portanto, não é apropriado para todas as ocasiões ou como metodologia exclusiva.

7. Ensinar aos Outros (Tutoria por Pares)

Método em que alunos se ajudam, normalmente em pares, beneficiando o tutor que tem a oportunidade de overlearning o material e de se envolver com níveis mais altos de pensamento. Alunos que atuam como tutores apresentam maior retenção sobre um assunto, especialmente após já ter realizado essa prática como estratégia de aprendizado.

Portanto, é razoável considerar que explicar / ensinar é o método mais ativo da Pirâmide de Aprendizagem. Seja ensinando o assunto para outra pessoa, explicando para si mesmo, ou debatendo o tema e criando tutoriais, essa experiência é considerada um dos métodos mais eficazes de aprendizagem.

A necessidade de uma profunda compreensão, organização e articulação de ideias de forma clara e lógica expõe lacunas em seu próprio entendimento e força a recuperação ativa da memória.  Tais explanações e ensinamentos de um conteúdo geram o chamado “efeito de produção” ou “aprendizagem por ensino”. Maximizando a compreensão e retenção de um conteúdo.

Naturalmente, não há nada mais poderoso do que a combinação dos métodos e de técnicas.

Quando escrevemos, por exemplo, ativamos múltiplas áreas do cérebro para processar, resumir e organizar informações, e tal processo melhora significativamente a codificação da memória. Assim como a prática deliberada e a recuperação ativa, em que forçamos o nosso cérebro a recuperar uma memória ao relermos algo, cada vez que isso acontece, a memória se fortalece. Reforçando a ideia de estar sempre estudando. Enquanto a prática da elaboração ajuda a tornar a informação mais relevante e fácil de entender, isso acontece quando conectamos o novo conhecimento ao que já sabemos, criando exemplos e analogias com nossas próprias palavras. Portanto, o mix de abordagens práticas e técnicas aumenta a retenção a longo prazo.

O ato de escutar e realizar anotações, e de ler algo e debater ou explicar para si mesmo ou alguém, aumenta e solidifica o aprendizado. Esse mix de contatos com livros, podcasts, palestras, anotações ou a escrita de textos maiores, debates e mentoria com envolvimento e propósito, certamente fazem diferença.

Embora não existam percentuais exatos sobre a eficácia de cada método, há uma mensagem clara e central das pesquisas em torno do tema da cognição e aprendizagem:

Quanto menos abstrato e maior o envolvimento e a ação com o material, maior a retenção. Ensinar e combinar os métodos e estratégias de recuperação ativa podem maximizar a eficácia e compreensão.

É importante buscar formas de processar a informação, testar consigo mesmo e aplicar, ensinando, para otimizar o processo de aprendizagem e retenção.

Técnica de Feynman (Para Aprender Qualquer Coisa)

O físico e ganhador do prêmio Nobel Richard Feynman (1918-1988) fez importantes contribuições para os campos da mecânica quântica e física das partículas, e teve grande capacidade de tornar temas complexos compreensíveis para um público mais amplo, a fim de popularizar a ciência. Ele desenvolveu uma técnica de estudo, inicialmente para a sua própria aplicação como estudante, diferente do Cone da Experiência de Edgar Dale, que foi publicado em 1946 como um modelo pedagógico formal.

 A técnica, que conceitualmente visa simplificar ideias complexas e apresenta sinergias com a Pirâmide de Aprendizagem, foi muito difundida após os anos 2000 e hoje é amplamente conhecida como técnica Feynman.

Visa aumentar o envolvimento com o estudo, maximizar a compreensão das ideias para aplicá-las da melhor forma, considerando quatro passos:

1° Definir o objeto de estudo

O primeiro passo é definido pela escolha de um tema, ou conceito ou assunto, seja ele qual for. Na esfera da astrofísica às belas artes, da fotografia à química, dos códigos computacionais a filosofia. 

2° Ensinar de forma simplificada

O segundo passo consiste em escrever tudo o que sabe sobre o assunto escolhido em uma linguagem simplificada, com palavras usuais, como se estivesse ensinando para uma criança.

3° Revisar e revisitar as fontes de conhecimento

No terceiro passo, devem-se identificar as lacunas de conhecimento considerando o que poderia ser mais bem explicado, pontuando questões específicas com a compreensão limitada ou esquecidas.  Com essa análise e consciência, voltamos à fonte de estudo para revisar textos, anotações e livros, incluindo a realização de novas pesquisas para explorar tudo o que precisa ficar mais claro e ser bem compreendido.

Para cada subtópico revisado e estudado, um novo texto explicativo com sua própria compreensão deve ser escrito com o mesmo conceito de simplicidade inicial, visando à a fácil compreensão do tema por uma criança. Se o resultado for satisfatório, volte ao texto inicial sobre o conceito ou assunto.

4º Revisar e simplificar

O quarto passo é caracterizado por uma fase revisional, com releitura em voz alta e simplificação. É importante certificar-se de que não há usos de jargões sobre o assunto que normalmente geram uma falsa sensação de conhecimento. Havendo qualquer explicação um pouco confusa no texto, isso indica que algo ainda carece de aprofundamento e compreensão. A criação de analogias e exemplos criados por você esclarece ainda mais as explicações e são indicativo de que estamos dominando o assunto.

Há um crescente reconhecimento de que a educação formal não é suficiente para capacitar um indivíduo para toda a sua existência com as atuais demandas da vida adulta e profissional e com o dinamismo contemporâneo. O atual conceito de “lifelong learning,” popularizado no último século na realidade carrega conceitos e sabedorias milenares, um valor que deve se perpetuar para própria preservação do ser humano.  Aprender a aprender torna-se uma ferramenta central nessa jornada e relação dinâmica entre mudanças rápidas e sabedoria.   

Fontes:

Pirâmide de aprendizagem

Referência principal:

  1. Lalley, James P.; Miller, Robert H. 22, setembro 2007 – The learning pyramid: does it point teachers in the right direction?

https://www.thefreelibrary.com/The%2Blearning%2Bpyramid%3A%2Bdoes%2Bit%2Bpoint%2Bteachers%2Bin%2Bthe%2Bright%2Bdirection%3F-a0169960867?utm_source=openai

Outras referências sobre o tema para suporte ao artigo:

https://www.idi.com.br/post/piramide-de-aprendizagem-e-desenho-instrucional?utm_source=openai

https://sanarmed.com/piramide-do-aprendizado-mito-ou-verdade-colunistas

https://www-growthengineering-co-uk.translate.goog/what-is-edgar-dales-cone-of-experience/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc#elementor-action%3Aaction%3Dpopup%3Aclose%26settings%3DeyJkb19ub3Rfc2hvd19hZ2FpbiI6IiJ9

Técnica de Feyman:

https://g1.globo.com/educacao/noticia/2024/12/07/a-tecnica-de-feynman-o-metodo-de-estudo-criado-por-nobel-para-aprender-qualquer-coisa.ghtml

Referências históricas:

https://www.britannica.com/topic/humanism

https://plato.stanford.edu/entries/enlightenment

https://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/iluminismo.htm

https://plato.stanford.edu/entries/pragmatism

https://plato.stanford.edu/entries/stoicism

https://plato.stanford.edu/entries/existentialism

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